sexta-feira, 23 de abril de 2010

Canto IV

E não é que teve continuação mesmo?
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Canto IV - A Quebra de Juramento e Revista de Agamémnone

Enquanto isso, no Olimpo...

ZEUS: [ironia] Pois é, camaradas, tá vendo como mulher estraga tudo? A Afrodite só se meteu pra estragar toda a brincadeira, e deixou a Atena e a Hera aqui se cagando de raiva à toa! Huahuahuahuahua! [/ironia]

Como vocês podem ver, Zeus não sabe usar [ironia].

HERA: Escuta aqui, isso é maneira de você falar? Você é chefe dos olimpianos?
ZEUS: Sou, claro.
HERA: Mas num parece, eu tô aqui tentando destruir os troianos.
APOLO: Eu já não vi um diálogo assim nessa paródia?
ATENA: Seu ignorante, não sabe que o estilo homérico é baseado na repetição?
ZEUS: Mas afinal o que tanto o Príamo te fez pra você querer assim destruir a cidade dele, hein?
HERA: [eufemismo] Er... nada... só assim, uma coisinha que eu quis dele e ele não me deu. Uma bobagem. [/eufemismo]

Como vocês podem ver, Hera sabe usar [eufemismo].

ZEUS: Mas pôxa, eu gosto daquele brinquedo, Troia, não é justo! Você pode destruir meus brinquedos mas não vai querer que eu destrua os seus!
HERA: Tá, vamos trocar. Se eu destruir Troia, você pode destruir Argos, Esparta ou Micenas quando quiser.
ZEUS: Promete...?
HERA: Prometo.
ZEUS: Então cospe aqui!
HERA: ... no seu pau!?
ZEUS: É.
HERA: Que merda de pacto é esse?!
ZEUS: Pacto...?
ATENA: Por falar em pacto... como é que fica o dos gregos e dos troianos?
ZEUS: Ah, faz assim: vai lá e diz que se um dos troianos der o primeiro tiro pra quebrar o pacto, vai ganhar uma grana. Aí quando eles quebrarem o pacto, podemos matar todos aqueles desgraçados com apoio da mídia, dizendo que eles atiraram primeiro!
APOLO: Porra, isso aqui é o monte Olimpo ou uma reunião da União Democrática Ruralista!?

Atena desce do monte e vai até Licáone, o Lício.

ATENA: Aí, Licáone, ouvi dizer que se tu der o primeiro tiro pra quebrar o pacto, vai ganhar uma grana.
LICÁONE: ISSA!!

Licáone vai pegar o arco! Eleavançapeladireitaeleavançapelaesquerdavaipegarnacarruagemoescudeiropeganoarco e paaaaasssa pra ele! Agora ele corre na direção do campo adversário! Elecorredriblaamarcaçãopassapelalinhademeio! Agoraelecaipelalateralesquerdavaiavançando com velocidade! Eleencaraamarcaçãogregarecuabotaaflechanoarcofintou, desviou, clareou, bateu!!!

... NA TRAAAAAAVE! Atena desvia a flecha no último instaaaaante ela resvala e acaba acertando no cinto!!!

MENELAU: Porra mas aí é sacanagem!!

No CINTO, sua anta!

MENELAU: Ufa.
AGAMÉMNONE: Caramba, Lau! Fiquei preocupado, achei que tu ia morrer!
MENELAU: Pô, valeu, mano, mas tô numa boa.
AGAMÉMNONE: Imagina só o que iam dizer? "Lá vai aquele otário, o Agamémnone, que veio pra cá pra pegar a mulher do irmão de volta mas agora vai voltar sem ela e sem o irmão". Eu ia ser zoado pra caralho!
MENELAU: É... bom saber que tu se preocupa...
AGAMÉMNONE: Aliás, é melhor chamar alguém pra estancar esse ferimento, antes que o sangue manche a armadura.
MENELAU: ...
AGAMÉMNONE: Taltíbio! Vai buscar um curandeiro!
TALTÍBIO: Mas onde, meu bom senhor?
AGAMÉMNONE: E eu sei lá, caralho! Faz um escândalo. Tu nunca mais vai aparecer nessa merda de história, mesmo.

Taltíbio corre a procurar Macáone, que, até onde Homero nos mostra, parece ser o único médico em todo o exército grego.

TALTÍBIO: LF HEALER EPIC TROY THEN G2G
MACÁONE: Tudo eu, tudo eu... Cadê o grupo?
TALTÍBIO: Tá na batalha, já...
MACÁONE: O quê!? Caralho! Quantas vezes eu preciso dizer pra chamarem o healer antes de começarem?!
TALTÍBIO: Er...

Macáone vai até Menelau, retira a flecha e trata do ferimento.

MENELAU: Putz, valeu dotô. Te devo uma.
MACÁONE: Sei... aposto que, se você morresse, geral ia dizer que a culpa era minha.
AGAMÉMNONE: Isso mesmo. Então sai fora! Te chamamos quando alguém se machucar de novo.
MACÁONE: Vida de merda...
AGAMÉMNONE: E agora, minha brincadeira preferida! Hora de passar a tropa em revista!
MENELAU: Mas é uma revista em quadrinhos?
AGAMÉMNONE: ...
TALTÍBIO: ...

Agamémnone começa a revista. Passa pelas tropas, e quando encontra homens preparados para a batalha e bem dispostos, elogia assim:

AGAMÉMNONE: AE CAMBADA! QUEM QUEBRA PACTO QUEBRA A CARA, FALEI!?
SOLDADOS: AEEEEE!
AGAMÉMNONE: QUEM É QUE ROBA AS MINA DE GERAL?
SOLDADOS: EH NOIX!
AGAMÉMNONE: EH NOIX MERMO, PORRAAAAA!

Mas quando encontra uma galera relaxadinha, chapadinha, paga logo um puta esporro:

AGAMÉMNONE: Tira essa roupa preta que você não merece! Tira essa roupa preta! Você não é caveira você é MULEQUE!

Agamémnone chega aos cretenses, chefiados por Idomeneu e Meríones, que estão preparados.

AGAMÉMNONE: Ah, isso é que é um exercito, rapá. Grande Idomeneu, meu chapa! Sabe que tu vai tá sempre convidado pra minhas festinhas, tá ligado?
IDOMENEU: Pára de perder teu tempo aqui comigo e vá lá pilhar o resto dos gregos. Porra.
AGAMÉMNONE: Cabra bão! Queria ter um irmão assim...

Passa também pelas tropas comandadas pelos Ajazes, já todas ordenadas.

AGAMÉMNONE: Bacana, muito bacana. Legal mesmo esse negócio de guerra.

Passa pelas tropas de Nestor de Gerena, que está botando ordem no pedaço.

NESTOR: Vem pra cá você, vem pra cá você! Má oê!
AGAMÉMNONE: Coé, velhote! Bom ver que tu ainda tem gosto pela coisa. Aposto que, se não fosse tão idosinho, estaria lá na frente lutando... Pena que a pipa do vovô não sobe mais.
NESTOR: Ah, mas se fosse em outra época! No meu tempo, as coisas não eram assim, não. Como naquela vez em que eu matei o Ereutalião! Lembro que era uma quarta-feira, e...
AGAMÉMNONE: Sim, sei, aposto que era. Com licença.

Agamémnone segue a revista e chega às tropas de Menesteu e Odisseu, que estão relaxando num baseadinho.

AGAMÉMNONE: Cambada de vagabundos! Quantos moleques nós ainda vamos ter que perder pra um preiboi poder fumar seu baseado!?
MENESTEU: Oi.
AGAMÉMNONE: Essa preiboizada! Quando é festa, cês são os primeiros da fila, na hora da porrada fica de relax, porra!?
ODISSEU: Porra, coroa! Tá me chamando de vagabundo?! Sacanage! Assim fico bolado, porra... Até parece que tu não é meu amigo.
AGAMÉMNONE: Er... tá. Foi mal, queria ofender ninguém, não.

Segue o caminho e encontra Diomedes e Esténelo, passeando de charrete.

AGAMÉMNONE: Diomedes, isso é coisa que se faça?! O que seu pai diria!? Ele era um guerreiro valente! Quer dizer, pelo menos foi o que me disseram.
ESTÉNELO: Porra, coroa, com quem tu pensa que tá falando!?
DIOMEDES: Fica quieto, pirralho, ou... ih!
AGAMÉMNONE: AAAAAH, MULEQUE!
ESTÉNELO: O quê? O que que eu fiz?!
AGAMÉMNONE: DÁ A MÃO, MULEQUE!
ESTÉNELO: Na mão não, chefe! Na mão, não!

PEI!

DIOMEDES: Melhor num mexer com o Agamémnone e a avaiana de pau dele...
AGAMÉMNONE: Ela não é confortável, mas educa as crianças!

As tropas gregas e troianas alinham-se e se preparam para o confronto.

GREGOS: UH! UH! VAMO INVADIR! UH! UH! VAMO INVADIR!
TROIANOS: PORRADA! PORRADA! PORRADA!

O lado a e o lado b se chocam e o pau come solto.

ANTÍLOCO: Toma!
EQUEPOLO: Ugh!
AGENOR: Toma!
ELÉFENOR: Ugh!
AJAZ 1: Toma!
SIMOÉSIO: Ugh!
ÁNTIFO: Toma isso, Ajaz!
LEUCO: Ugh!
ÁNTIFO: Como assim, eu atiro a lança num e morre outro? Explica essa porra direito, Homero!
ODISSEU: Ae, sacanage matar o Leuco, ele era meu parceiro de truco!
DIOMEDES: É... e também te devia aquelas 500 pratas, lembra?
ODISSEU: ... O QUÊ!?

Enfurecido, Odisseu corre para enfrentar os troianos.

ODISSEU: Filhos da puta!

Arremessa a lança. Os troianos todos se abaixam, menos Democoonte.

PÁRIS: Mas que burro!
DEMOCOONTE: É que deu lag... ugh!

Cai morto. Apólo tenta incitar ânimo, coragem e força aos troianos.

APÓLO: Ânimo! Coragem! Força!
PÁRIS: Porra, valeu hein? Que faríamos sem você?
PÍROO: Toma!
DIORES: Ugh!
PÍROO: Arrá! Espólios!
TOANTE: Toma!
PÍROO: Ugh!
TOANTE: Arrá! Espólios!
PÍROO: Vacilo... nem bem apareço já morro!
TOANTE: Quem mandou ser figurante, rapá?
PÍROO: Ninguém pensa nos capangas...

Vida de merda, hein?
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Continua... eu acho.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Aristóteles e amizade entre os gatos

Vamos começar o texto com uma premissa meio boçal: um monte de coisas, em geral do tipo mais importante, nunca pode ser realmente explicada. Todo mundo sabe disso, de um jeito ou de outro: a explicação até ajuda a entender, às vezes muito, mas no fim das contas, ou entende-se entendendo, sabe-se lá como, ou não, e cada um entende do seu jeito (mas com alguma coisa em comum?), portanto vindo a explicar do seu jeito para que o outro tente entender (até onde se pode falar em entendimento e não em criação de sentido próprio, etc.), e todos esses dilemas pedagógicos e epistemológicos que, a princípio, devem permanecer fora deste espaço pouco sério - como, aliás, todo traço de metodologia e rigor acadêmico. O que não me impede de irresponsavelmente usar Aristóteles nele.

Tinha uma coisa que o homem fala à qual eu nunca tinha prestado a devida atenção (e o que se vai fazer? Impossível prestar atenção à tudo), possivelmente porque nunca entendi, ou não entendi porque não prestei atenção e, francamente, a ordem não interessa. Ele diz, no mesmo trecho, primeiro, que pais e filhos sentem, naturalmente, amizade um pelo outro, e logo em seguida, que o mesmo sentimento pode ser visto nas aves e na maioria dos demais animais (vale sempre notar, a palavra que ele usa e traduzimos por amizade, "philia", velha conhecida por aglutinações bem-quistas do português como "pedofilia" e "necrofilia", não é bem "amizade", mas aqui a diferença é sutil o bastante pra não fazer diferença). Se não prestei a devida atenção por muito tempo, provavelmente foi por que não ligava muito para bichinhos, por um lado, ou porque simplesmente não concordava com a ideia de amizade entre desiguais - e é o próprio Aristóteles quem diz, antes e depois do trecho em questão, que a amizade se dá primordialmente entre iguais.

O resultado é que não entendi merda nenhuma e deixei o trecho de lado, atribuindo o desentendimento às dificuldades da tradução. Isto, aliás, é um troço engraçado: depois que nos damos minimamente conta da dimensão das dificuldades de adaptar um texto como esse, rapidamente fica fácil supor obstáculos intransponíveis onde eles não necessariamente existem; ou seja, na dúvida, deve ser problema de tradução. No caso, claro, minha cabeça é que estava torta. Basta andar um pouco e o autor mesmo explica como, embora a amizade seja baseada na igualdade, existe entre os desiguais.

"Em todas as amizades que envolvem desigualdade, o afeto também deve ser proporcional: a melhor das duas partes, por exemplo, ou a mais útil ou superior de qualquer outra maneira, conforme o caso, deve receber mais afeto do que dá, pois quando o afeto é proporcional ao mérito estabelece-se, de certa forma, uma igualdade, vista como uma característica essencial da amizade." (E.N., 1158b, 24-29)

De minha parte, sempre tive essa intolerância besta com este trecho que, como outros do autor, busca estabelecer certa hierarquia entra as pessoas e seres em geral, no estilo governantes > governados, homens > mulheres, homens livres > escravos, etc. Mas, cacetada, ele viveu no séc, IV A.C. e, se você vivesse, quase certamente pensaria da mesma forma, então dê-se o devido desconto ao homem; deixemos o quiprocó da superioridade-inferioridade pra lá enquanto tento explicar minha (inexplicável) interpretação deste trecho e, mais importante, do assunto que ele trata, por sinal desenvolvida esta madrugada sem a ajuda de nenhuma outra explicação - mas de duas bichaninhas.

Rápida intervenção explicativa. Dia 23 de dezembro do ano passado uma gata abandonada veio dormir do lado da porta de nossa casa, esquálida, bigodes cortados e barriguda. Sem saber se eram vermes ou filhotes, pegamos a bichinha, eu e minha mulher, para ficar por aqui até ela melhorar/ter a cria, e depois dar para minha sogra, que já queria outra gata, mesmo. Eram filhotes, claro, e Natalina teve, na terça de carnaval, 3 filhotinhas, que chamamos de Maia, Electra e Mérope; fomos cuidando das quatro, isoladas na varanda aqui de casa, enquanto tentávamos arrumar alguém pra adotar essa gataria toda, o que, eventualmente, aconteceu.

Ontem, o primeiro casal de adotantes veio, inicialmente para levar apenas uma, e acabou carregando Maia e Mérope. Quando cheguei em casa mais tarde, já quase de madrugada, ouvi os miados familiares da filha restante e sua mãe e, quase por reflexo, fui pegar água e comida para encher seus potes; mas, quando cheguei à varanda, vi que ainda estavam cheios. Sentando-me junto a elas, entendi que, era óbvio, não estavam miando nem por fome, nem por sede, mas de aflição, de solidão, de medo: onde estavam as outras duas? Foram mortas, feridas, devoradas? Elas voltarão algum dia? E nós, vamos ficar aqui - ou somos as próximas (e são)? A incapacidade animal de formular seus sentimentos em palavras, quem tem bicho sabe, não nos impede de interpretá-los e compreendê-los.

Fiquei com elas na varanda por um tempo. Observei Electra, miante, esfregando-se em mim, na mãe, sem parar, e reparei que elas se afagavam, lambiam, etc., muito mais do que antes. Pouco depois, e desde então até agora, vi que estão sempre abraçadas, a mãe cobrindo a filha, aquecendo-a. Elas são mãe e filha, e seu afeto é desigual, dado de maneira desigual, mas a todo momento vi, tão claramente, como são igualadas por ele e por sua situação: são duas gatas, sozinhas, com medo frente ao desconhecido, habitando o mesmo espaço, partilhando do mesmo afeto e confiança - que, por sinal, por hora, é o que lhes resta.

Não estou contando esta historinha para sensibilizar ninguém para o drama dos animais abandonados (embora não pretenda impedi-los, caso queiram) ou discutir o assunto. Até porque, levando-se tudo em conta, é uma história em que tudo deu certo, todos os animais abandonados estão prestes a encontrar abrigo, gozam de saúde, etc.; e temos muitas outras desgraças com as quais nos sensibilizar. Estou partilhando a mesma porque vi valor nela como exemplo do que diz Aristóteles com relação aos animais e, de forma mais abrangente, como analogia para toda a ideia da amizade e do afeto como equalizadores.

Se podemos dizer que qualquer animal é capaz de amizade, com todas as devidas proporções guardadas, então Electra e suas irmãs eram, certamente, amigas. E também ela e sua mãe, como são, analogias devidamente aplicadas, mães, pais e filhos em toda parte. Mas também, e talvez o mais importante, podem ser quaiquer pessoas em quaisquer circunstâncias, pois partilhamos sempre um mínimo de coisas em comum, como partilham agora Natalina e Electra: estamos vivos, estamos sós, tememos o sem-número de coisas que desconhecemos, habitamos o mesmo espaço, etc.

A interpretação certamente extrapola as intenções do autor, imagino eu. O que é ótimo, ainda que não absolutamente, até porque é necessário para se pensar. Mas me agrada esta ideia: de que, mesmo com toda a diferença, com toda a desigualdade, teremos sempre o suficiente em comum para que a amizade, onde ela consegue surgir, de certa forma nos iguale.

Canto III

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Canto III - Juramento, Muralhas da Observação e o Combate Singular de Alexandre e Menelau

Os exércitos gregos e troianos avançam para se encontrar no campo de batalha. Páris começa a se engraçar.

PÁRIS: Ih, lado A, lado B, rapá, o bicho vai pegar. Ah, muleque!
HEITOR: Ai, saco...
PÁRIS: Aí, mano, diz uma coisa. Quem é esse tal de Alexandre aí do título?
HEITOR: É você, seu anormal!
PÁRIS: Ah, é, esqueci que também tinha esse nome.
HEITOR: Eu devo ter jogado pedra no Olimpo...
PÁRIS: Aí seus grego otário! Otário!
HEITOR: Caralho, começou...
PÁRIS: Bando de viadinho, comeninguém!

Menelau avista Páris e fica loco de raiva.

MENELAU: Agora eu te pego filho da puta!

Vai até Páris.

MENELAU: Pára de andar atrás da minha mulher. Que senão... eu dou-lhe um tiro! Eu sei que não dá mais pra mim, mas... eu faço todo o possível. E também estou cansado de sair na rua ouvir certas conversas como: lá vai o grande chifrudo.
PÁRIS: Chifrudo? Eu soube exatamente o contrário, nada disso. Eu soube que... hm... soube que o senhor estava. Tava dando o negócio pros outro aí, pô.
MENELAU: Além de ser folgado você é um grande filho da puta - retire-se.
PÁRIS: Primeiramente eu não aceito ordens de bicha, entendeu?
MENELAU: Olha aqui seu frangote, eu sou velho... e se você não se retirar daqui a 5 minutos, eu vou enfiar isso na sua bunda.
PÁRIS: Aaaah, que é isso, rapá. Tá pensando que eu tenho a sua mania? Eu sou é homem, rapaz! Por que você não aproveita e enfia isso em você mesmo?
MENELAU: Ahahahaha. Cê quer mesmo? Num dá jeito! Só, mas pra você ter uma idéia, só um instante, vamos ver se você é macho pra isso. Anda, venha logo.

Menelau joga a espada pra Páris.

PÁRIS: ôu!

Deixa a espada cair.

MENELAU: Se cortou? Toma o meu lencinho!
PÁRIS: Hmmm... quanta gentileza! Já tá botando as manguinhas de fora, hã?
MENELAU: É... ehe.
PÁRIS: Eu deixei cair uma coisa de grande utilidade!
MENELAU: Você tem razão. Essa espada já me deu... muuuita alegria. Mas ainda não tenho o jeito... mas pego algum dia.
PÁRIS: Se você tivesse a minha experiência...
MENELAU: Por que que você não falou antes?
PÁRIS: Eu fui obrigado a fazer cú dôce, entendeu? E eu não gosto de falar as coisas abertamente, assim, pra todo mundo, assim, me confessar o que eu sou realmente. Eu só lhe falei porque você. Você é igual a mim, sabe? É uma coisa que aconteceu comigo... quando eu era criança.
MENELAU: Eu guardarei o seu segredo. Bichinha.
PÁRIS: Ok, bichona.

Páris volta pra junto dos troianos.

HEITOR: Porra, Páris, deixa de viadagem. Você tem que parar de frescura e enfrentar logo o Menelau pra gente voltar pra casa pra jogar unieléve.
PÁRIS: Ah, mano!
HEITOR: Tá com medo? Você é um covárrde, Le Roy, um covárrde!
PÁRIS: Tá bom, eu vou mas... me dá uns buff antes?
HEITOR: Que mané buff, o quê.

Heitor vai até os gregos.

HEITOR: Aê, bora resolver tudo num x1, Páris e Menelau. Perdeu um, perdeu o resto. Q Q 6 ACHÃO?
AGAMÉMNONE: Fmz.
NESTOR: Eh noix.

Páris invites you to a duel.
Menelau accepts your duel.

Nisso Íris vai chamar Helena pra ver a peleja.

ÍRIS: Vai lá, mulé, os homi tão brigando pra ficar com tu!

Lá em cima, Príamo e uma cambada sentam na arquibancada pra ver a luta.

PRÍAMO: Minha filha vem cá! Assiste aqui no camarote com o sogrinho... e me explica quem é quem, que eu não enxergo nada sem meus óculos. Quem é aquele coroa ali?
HELENA: /whois Agamémnone

Agamémnone Human Warrior lvl 70


PRÍAMO: E aquele com jeito mais moleque?
HELENA: /whois Odisseu

Odisseu Human Fiadaputa lvl 70
<Ítaca>

PRÍAMO: E quem é aquele outro grandalhão?
HELENA: /whois Ajaz 1

sua mãe trepando seu fiadaputa!

PRÍAMO: Mas que grosseria!

Para de enrolar, seu véio, e deixa eu continuar a estória!

PRÍAMO: Tá bão...

Príamo vai de carroagem firmar o pacto solene com os gregos.

PRÍAMO: É pacto de cuspe?
AGAMÉMNONE: É o que for.
PRÍAMO: Então toca aqui. Quem ganhar, ganha, quem perder, perde.
ODISSEU: O véio tá gagá...
PRÍAMO: E se alguém quebrar o juramento, que seus miolos estourem e caiam no chão.

Acreditem, esse juramento eu não inventei!

Odisseu e Heitor medem o campo de batalha.

ODISSEU: Pena que ainda não inventaram aquele sprayzinho pra marcar a grama do campo.
HEITOR: Que grama? Aqui só tem terra dura!
PRÍAMO: Fui.
AGAMÉMNONE: Ué, tu não vai ver a luta?
PRÍAMO: Luta? Esses dois frangotes? Prefiro jogar damas.

Príamo volta pra Tróia. Os duelistas vestem as armaduras, os elmos, as sombrancelhas e passam um batonzinho pra dar mais charme.

HEITOR: Chega dessa enrolação!

ROUND... ONE... FIGHT!

MENELAU: ABUGUEM!!
PÁRIS: ÚLURÚRULÚ!
ODISSEU: Argh, ele tá dando os pulinhos do Vega!
HEITOR: Fala grosso, porra!
MENELAU:
Meu santo Zeusinho padre Cícero, por favor me ajuda a matar esse filho da puta!

Atira a lança.

PÁRIS: Pei! Morri.
MENELAU:ÉÉÉÉ!!
PÁRIS: Brinks, tô vivão.
MENELAU: Filho da! Agora tu vai ver!

Menelau acerta em cheio a espada na cabeça dele, mas ela quebra.

MENELAU: Ah, tá de sacanagem!!!

Afrodite intervém e enche tudo com névoa.

MENELAU: Ei, quem soltou a lag grenade?

Afrodite leva Páris de volta ao palácio de Tróia. Vai falar com Helena.

AFRODITE: Helena, meu bem, teu homi voltou!
HELENA: Deixa de caô, sua sirigaita.
AFRODITE: Caô nada e cala essa boca antes que eu quebre isso que você chama de cara.

Helena vai ver Páris.

HELENA: Não acredito! Seu covarde, seu rato, seu, seu.
PÁRIS: Mimimi, mimimi - calaboca logo e vamo pro quarto que eu tô a fim de dá uma trepada.

Sobem pro quarto. Enquanto isso, no campo de batalha.

AGAMÉMNONE: Absurdo! Exigimos vitória por WO!
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Continua...

domingo, 4 de abril de 2010

Canto II

Segue a reedição:
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CANTO II - Sonho, Teste e Beócia ou O Catálogo das Naus

Todos dormem, menos Zeus, que é um deus simpático, agradável, no entanto fica perdendo seu tempo com bobagem. Ele conversa com Sonho.

ZEUS: Mas vamos bolar um plano para enganar o Agamémnone, Sonho. Eu sei de um plano.
SONHO: Eu também sei seu porra.
ZEUS: Você vai entrar no quarto dele, vai... Não, correção!
SONHO: Uhn?
ZEUS: Você vai se fantasiar como mulher do Agamémnone. Você vai se fazer passar pela mulher do Agamémnone. Você vai dormir uma noite com o Agamémnone. Você vai se fantasiar de viado.
SONHO: Glup! Merda!

Sonho não se fantasia, mas vai à tenda de Agamémnone e enche ele de idéia errada.

SONHO: Aí, hoje vai dar até pra tirar a camisa, hein? Vai matar geral! Geral!
AGAMÉMNONE: Ah, moleque!
SONHO: Sem neurose, sem caô, Zeus manda avisar que pode partir feroz, porque os troianos vão rodar!

Agamémnone acorda e imediatamente vai chamar os chefes dos gregos.

AGAMÉMNONE: Pessoal, hoje um sonho me visitou com uma mensagem direta de Zeus. Ele disse assim: "Sem neurose, sem caô, Zeus manda avisar que pode partir feroz, porque os troianos vão rodar!"
DIOMEDES: Nós acabamos de ler isso duas linhas acima!
ODISSEU: Seu ignorante, não sabe que o estilo Homérico é baseado na repetição?
NESTOR: Hora do pau!

Saem para falar com o povo.

AGAMÉMNONE: Pessoal, sei que vocês querem bater nos troianos, mas... Estou morrendo de cansaço, vam´bora meninas, vam´bora. Eu vou embora, tchau queridos.
GREGOS: Hein?!
CHEFES GREGOS: Hein!?
HERA: Hein!?
ATENA: Ué, nós não estávamos dormindo?
HERA: Esquece isso e vai lá impedir esse corno de ir embora.

Atena desce.

ATENA: Odisseu, não dá mole, não deixa esse corno ir embora.
ODISSEU: Ah!

Odisseu passa uma descompostura nos soldados que pensavam em ir embora.

ODISSEU: Peidorrentos!
TERSITES: ... esse Agamémnone acorda pra sacanear um, tem que mandar logo tomar no cú!
ODISSEU: Seu Tersites.
TERSITES: Pra puta que pariu! Filho da puta! Filho da puta!
ODISSEU: Calma filho da puta! Calma!

Odisseu dá uma paulada em Tersites.

ODISSEU: Só não te dou outra porque!

Depois fala a todos.

ODISSEU: Ó, não peidem não, hein!?
NESTOR: É! Er... é sério isso, Agámemnone?
AGAMÉMNONE: Brink's, vamos ficar. Aprontem um churrasquinho.

Aprontam o churrasco, oferendam um pouco pra Zeus.

ZEUS: Hmmm... toucinho!
NESTOR: Chefe, afinal, quanta gente veio pra essa merda de guerra, hein?
AGAMÉMNONE: Er... sei lá.

Agamémnone sai e começa a contar as naus.

AGAMÉMNONE: 987, 988, novecentos e... merda, aquela onda me atrapalhou. Não vou mais contar porra nenhuma.

Anda até as tropas.

AGAMÉMNONE: Aí pessoal, cansei de contar barquinho. Vamos começar meu joguinho favorito...

Agamémnone pega a pauta.

AGAMÉMNONE: Chamada!
BEÓCIOS: Presentes!
ASPLEDONENSES: Presentes!
FOCIDENSES: Presentes!
LÓCRIOS: Presentes!
AJAZ 2 : Presente. Ei, ei, peraí, como assim, "Ajaz 2"?
EUBEIENSES: Presentes!
ESTIRENSES: Presentes!
ATENIENSES: Presentes!
AJAZ 1: Presente.
AJAZ 2: Ei! Por que eu tenho que ser o 2? Aliás, por que 1 e 2, custa escrever o sobrenome?
ARGIVOS: Presentes!
DIOMEDES: Presente.
AJAZ 2: Ajaz Oileu, Ajaz Telamônio! Viu? Não é difícil!
MICENENSES: Presentes!
CORINTIANOS: Vai curingão, vai mano!
AGAMÉMNONE: Que mano, o que, sai pra lá!

É, essas torcidas organizadas são muito violentas...

ESPARTANOS: Presentes!
MENELAU: Mano, posso ir no banheiro?
AGAMÉMNONE: Não, você ainda tá de castigo por ter perdido sua mulher.
MENELAU: Mas eu tô apertado...
NESTOR: Presente.
TRÁCIOS: Presentes!
AJAZ 2: Não, é sério, que tal então Ajaz T e Ajaz O?
BUPRASE... BUPRASENSES? BUPRASIANOS? COMO SE CHAMA QUEM VEM DESSE LUGAR?

Eu sei lá, e alguém se importa com esses putos? Eles nem aparecem mais na estória.

AGAMÉMNONE: Vamos andar logo com isso aí?
DULIQUI... DULIQUINENSES? DULIQUINÉSIOS?
AGAMÉMNONE: Ah, pelo amor de... Odisseu!?
ODISSEU: Presunto!
TOANTE: Engraçadinho...
AJAZ 2: Não preferem? Letras ficam melhor que números! Até porque os numerais árabes ainda vão levar séculos para serem inventados...
AGAMÉMNONE: Tá, chega de merda! Idomeneu, Cretenses, Meríones, Ródios, Teplólemo, blábláblá... todo mundo aqui.
AJAZ 2: Pô, gente, isso é tão injusto... a maioria das pessoas nem imagina que tenha mais de um Ajaz nessa guerra. Quer dizer, Pedro, Paulo, João, a gente espera ver mais de um... mas Ajaz?
AJAZ 1 : Quer calar a porra da boca?!
AGAMÉMNONE: Todo mundo... menos os Mirmídones e o Aquiles! Hahahaha! Falta pra você, Aquiles! Mais uma e vocês serão reprovados!
GREGOS: ...
ODISSEU: Cara, duvido que os troianos tenham que aturar isso.

Enquanto isso, em Tróia...

HEITOR: Quem quer lutar com os gregos põe o dedo aqui! Que já vai fechar!
ENÉIAS, ACAMANTE, ARQUÉLOCO, PÂNDARO, ADRASTO, ANFIÃO, ÁSIO, PILEU, PELASGO, EUFEMO, PIRACME, PILÊMENES, EPÍSTROFO, ODIO, CRÔMIS, ENOMO, FÓRCIS, ASCÂNIO, ÁNTIFO, MESTLE, NASTES, ANFÍMACO, GLAUCO E SARPÉDONE:
Eeeeeeeeeeeeeeeeu!!!
PÁRIS: Pô, mano, estranho esse negócio de por o dedo... sei lá, inclua-me fora dessa.
GLAUCO: E alguns desses caras aí em cima já até morreram!
POLIDAMANTE: Cara, duvido que os gregos tenham que aturar isso.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Canto I

Relendo umas bobagens velhas do Pisandro, decidi que o lugar delas é aqui, então vou republicar. Se bobear, até continuo!

Pra quem não viu, trata-se de droga pesada: minha tentativa vergonhosa de parodiar a Ilíada.

Critique ou não; a única certeza é que eu me divirto.

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CANTO I – A Peste e a Ira

Deus, dê-me forças pra conseguir contar o grande chilique que teve Aquiles, por conta do qual um monte de gente morreu, perdeu braço, perna, prega, enfim, foi uma merda só.

Perto do acampamento dos gregos, Crises vem falar com Agamémnone.

CRISES: Ó só, Agá, tô cagando se vocês destroem Tróia, alopram geral... levar minha filha é sacanagem, pô, sou sacerdote, pô, isso, isso num se faz não, fião. Devolve ela aí.
AGAMÉMNONE: Agá, quem cê tá chamando de Agá, isso é maneira de você falar? Você é sacerdote de Apolo?
CRISES: Sou, claro.
AGAMÉMNONE: Mas num parece, eu tô aqui tentando dirigir um exército.
CRISES: Ó só, Agá, tu fica esperto, hein? Tu fica na tua. Senão vou chamar o Apolo, aí o bicho vai pegar pra tu. Favor respeito.
AGAMÉMNONE: Respeito de cu é rola, seu véio. O meu negócio agora vai ser papar tua filhinha dia e noite até ela morrer velhinha lá em casa, e sai daqui se não quiser levar uns pipoco!
CRISES: Er...

Crises vai rezar pra Febo Apolo.

CRISES: Aí Apólou, Apólo! Sacanagem aí, o maluco te desafiou, hein, falou que tua mãe tem cabelo no dedo do pé! Desafiou que eu vi!

Apolo pega o arco e flecha e faz chover praga pra cima dos gregos por 9 dias. Todo mundo se fode. Aquiles fica boladasso e chama a galera.

AQUILES: Galera, tô boladasso, assim não dá. Vamo consultar um adivinho, um pai de santo, qualquer coisa aí porque parece que rogaram uma praga pra cima da gente.

Levanta-se Calcante, que vaticina, joga cartas, búzios e traz a pessoa amada em 3 dias, satisfação garantida ou seu boi de volta.

CALCANTE: Olha, eu falo, eu falo, mas me garante aí, Aquiles, que vai ter gente, que eu não vou dizer o nome ainda não, mas vai ter gente, que vai ficar putinho comigo.
AQUILES: Tem treta não, mermão, tá comigo, tá com Zeus.
CALCANTE: Foi o Agamémnone, foi ele quem começou sim, que eu vi! O Crises veio aí...
AQUILES: O Cruzes?
CALCANTE: Crises.
AQUILES: Que nome de gibi da DC.
CALCANTE: Então, ele veio pedir a filha de volta, a Criseide, e o Agamémnone mandou ele sair varado se não quisesse levar uns pipoco. A gente devolve ela que Apolo vai parar na hora, pode confiar.
AGAMEMNÓNE: Seu bruxo de merda, seu filho duma puta, safado, sem vergonha! Eu nunca fui com a tua cara! Vai querer que só eu largue da minha? Sacanagem!
AQUILES: Coé, pão-duro, tu já é cheio da bufunfa... segura tua onda, quando a gente passar os troianos, vai sobrar mulézinha pra ti, patrão.
AGAMÉMNONE: É o caralho! Eu vou querer uma escrava aí, tenho um vale-escrava!
AQUILES: Mas que filho da puta olha aí veja você! E querem que a gente siga ordens desse escroto? Todo mundo se fode, mas beleza, tá tranqüilo. Agora tu ainda por cima vai querer levar escrava dos outros? Aí não!
AGAMÉMNONE: Tá se engraçando pra cima de mim? Ah, não, agora vou levar é a tua escrava, a Briseide, aquela gostosinha, só pra tua aprender quem manda nessa bagaça.
AQUILES: CUMÉQUIÉ CUMPÁDI?!

Atena desce do céu para falar com Aquiles antes que ele saque a espada e saia fazendo merda.

ATENA: Pô, Aquiles, pega leve aí, que a tua hora vai chegar. Se quiser xingar, xinga, mas num toca o rebu, não.
AQUILES: Er... tá.

Atena vai embora.

AQUILES: Filho da puta cretino!

Nestor se levanta.

NESTOR: Pô, gente, vamos ser da paz!...
AGAMÉMNONE: Paz! Cala essa boca!
AQUILES: Quer levar a mulézinha, leva, mas depois agüenta as conseqüênciassssss.

Aquiles tem um chilique, joga o cetro no chão e sai. Agmémnone manda levarem Criseide para o pai, e depois apanharem Briseide na tenda de Aquiles.

PÁTROCLO: Santo roubo de escravos, Aquiles! São os emissários de Agmémnone!
AQUILES: Acompanhe os moços, menino-prodígio. Você tem muito que aprender com eles.
PÁTROCLO: Ui!

Pátroclo vai com eles. Aquiles vai até a praia e começa a choramingar.

AQUILES: MANHÊEEEE!

Chega Tétis.

TÉTIS: Que foi, filhinho?
AQUILES: O Aga, Aga, chuif, chuif, o Agamémnone! Ele, ele levou a minha escravinha! UÁAAAAAA!
TÉTIS: Oh, pobrezinho, vem aqui com a mamãe, vem. Agora fica bem calminho, tá? Que a mamãe vai lá falar com titio Zeus, e vai consertar tudinho pra você, tá bom? Agora toma um pirulito.
AQUILES: Êeeeeeee!

Odisseu chega com Criseide até Crises.

ODISSEU: Tô na área. Tua filha aí, ó.
CRISES: Opa! Aí, Apolo! Suspende a praga!

Apolo suspende a praga. Tétis vai até Zeus.

ZEUS: Chega mais, minha gostosa!
TÉTIS: Ai, Zeusinho, querido... sabe o que eu queria meeeesmo? Que os Troianos dessem umas porradas nos gregos, pro Agmémnone deixar de ser besta.
ZEUS: Iiih...
TÉTIS: Ai, deixa, vai, deixa, vai, diz que sim, diz que sim, diz que sim, vai, siiiiiiiim?
ZEUS: Tá, mas fica no sapato senão a Hera vai me encher a paciência.

Tétis vai embora. Zeus vai encontrar os outros deuses, e Hera desconfia.

HERA: Zeus Crônica Potente Que as Nuvens Cumula da Conceição Tavares! Que perfume barato é esse?!
ZEUS: Er...
HERA: Eu sabia! É da Tétis, aquela sirigaita! Aquela piranha!
ZEUS: Er...
HERA: Você andou se engraçando com ela? Ela pediu pros troianos ganharem, não foi? Hein?
ZEUS: Ah, cala a boca e não enche o saco, porra! Quer apanhar?
HERA: ...

Hefesto chega com uma taça de vinho.

HEFESTO: Pô mãe, fica assim não, bebe aqui um vinhozinho.
HERA: ... tá.

Hera bebe. Os outros deuses todos bebem. Apolo faz um mega-solo de lira, rola uma fuleiragem desgraçada e todo mundo toma um porre. Acordam numa boa, que deus não tem ressaca.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Leis de Gerson

Papo velho, escrevi isso acho que lá por 2003 ou 2004. Fui procurar nos meus arquivos por conta dum post do Mike, achei legal e decidi repostar. Querendo, emenda-se a lei.

LEIS DE GERSON

Capítulo I: Parte Geral

Art. 1°: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também."

Art. 2°: A Lei de Gerson é a única e verdadeira lei, estando todas as demais a ela subordinadas.

Capítulo II: Parte Específica

DAS FILAS

Art. 3°: Todas as espécies de filas foram feitas para serem furadas.

Par. Único: No trânsito, buscar sempre a fila mais rápida, ignorando tanto a Lei de Murphy (a dos outros é sempre mais rápida), quanto a Lei de Newton (dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo), conforme o art. 2° desta.

DO COUNTER-STRIKE

Art. 4°: O negócio é matar e o time que se foda.

§1°: O vencedor da partida é aquele que marca mais pontos individualmente.

§2°: Quem mata mais tem direito, assegurado por esta lei, de esculachar todos os participantes inferiores.

Art. 5°: Camperagem não é problema, é solução.

DO STREET FIGHTER

art. 6°: Se a apelação não está funcionando, você não está usando o suficiente.

art. 7°: Novatos e jogadores de menor idade são uma grande maneira de poupar o seu gasto com fichas.

DO TRÂNSITO

art. 8°: O limite de velocidade é, na realidade, o dobro do que está escrito nas placas.

art. 9°: O acostamento existe para ser usado. Por você, num engarrafamento, enquanto todos os outros ficam parados.

§1°: Em ruas de mão dupla, a contra-mão substitui a função do acostamento.

§2°: Em caso de batida, a responsabilidade recai toda sobre o filho da puta que não desviou de você a tempo.

art. 10°: O indivíduo que demorar mais de uma fração de segundo para reagir a um sinal verde deve ser punido por uma série de usos de sua buzina.

DA CONFLITO DE OPINIÕES

art. 11: Você está sempre certo.

I. Quem disser o contrário, está errado.

II. Discutir a respeito é perda de tempo.

III. Se o outro lado recusar-se a ouvir a verdade, force-o.

art. 12: Se violência não está resolvendo o problema, você não está usando o suficiente.

terça-feira, 9 de março de 2010

Serviço de Informação Pública - Pulseiras do Sexo

Como costumo fazer com todas as correntes de internet que recebo, e como todo mundo devia fazer antes de repassar, fui pesquisar a respeito; e desta vez, foi difícil. O rumor pegou tão forte que a grande mídia comprou e, no fim das contas, até as escolas e os municípios tomaram atitudes contrárias às tais pulseiras. Então, primeira coisa:

- Já me surpreende que os britânicos percam tempo com o The Sun, fonte deste artigo e do boato; por que nós, brasileiros, perderíamos? Porque nossa mídia é tão ruim, mas tão ruim, e tão puxa-saco dos gringos, que promoveu a notícia sem nem verificar - algo no qual, aliás, o próprio The Sun é mestre. Mas tenham certeza: o The Sun é merda embalada em papel jornal, e suas principais preocupações continuam sendo apoiar as guerras americanas (Iraque, Afeganistão, etc.), alimentar o ódio aos imigrantes na Europa e, principalmente, encher o bolso do Rupert Murdoch.

- Esta não é a primeira aparição dos boatos, ou de uma brincadeira do gênero. Estas pulseiras são do tempo da Hebe Camargo virgem, só o boato sobre seu significado sexual é recente. Mas em geral, em todos os lugares que pesquisei, nenhum dos adolescentes entrevistados levava a suposta brincadeira a sério. Todas as atitudes oficiais, de governos ou de escolas, foram muito mais por conta da histeria coletiva gerada pela corrente do que por qualquer outra coisa. Tudo leva a crer que não passa de um grande hoax, lenda urbana, no nível do boato de que os hamburguers do McDonald's eram carne de minhocoçú, de que lindas mulheres te dando mole podiam estar atrás de seu fígado, ou de que o mendigo do aterro do flamengo injeta aids em quem deixa a janela aberta. Além disso...

- Pelamordedeus, quem nunca jogou salada mista? Verdade ou consequência? Brincadeiras sexuais entre adolescentes sempre existiram, e sempre contiveram a ideia de forçar o outro a fazer isto ou aquilo. E nunca vimos ninguém fazer nelas algo que já não quizesse fazer de todo rumo; é porque são brincadeiras, são feitas para quebrar o gelo, permitir que se expresse os desejos e se brinque com eles, e não uma lei secreta de um grupo de adolescentes malvados que tomaram a escola e querem corromper seus lindos filhinhos.

- Naturalmente, se houvesse mesmo essa brincadeira (e, repito, não vi nenhuma evidência primária, convincente, disto), o único efeito da proibição delas é levar os pobres ambulantes que as vendem à falência. Sempre se pode inventar uma nova brincadeira usando tampas de caneta, latas de refrigerantes, ou absolutamente nada, já que o equipamento básico necessário vem de fábrica.

- Pra terminar, isto não quer dizer que a sexualização crescente da mídia, e a exposição cada vez maior de crianças e adolescentes a ela, não sejam preocupantes - são. Mas isto se resolve com uma educação sexualmente responsável (que, é evidente, começa em casa), com manifestações contrárias ao sensacionalismo na imprensa e nas mídias e geral, e com um uso mais criterioso das mídias acessíveis a nós, em especial a internet.

Por isso: pesquisem antes de repassar!

terça-feira, 2 de março de 2010

BBB = Armação ilimitada?

Não foi tão breve mas, cá entre nós, falar de BBB é ainda mais difícil e requer ainda mais esforço do que vê-lo. Até aqui, pelo menos nestas férias, o videogame ganhou quase sempre...

Mas o programa de hoje me deu oportunidade de ver com mais exatidão duas coisas que já vinha dizendo/pensando há algum tempo; sobre uma já escrevi no último post e acrescentarei pouco, sobre a outra, ainda não, e pretendo elaborar mais.

Primeiramente quero observar como os últimos dois paredões desta edição do programa ilustraram melhor ainda a questão do "verdadeiro eu", mais até do que o exemplo que dei anteriormente. Nas duas vezes, quase todos os participantes preocuparam-se muito em mostrar, principalmente dentro do "confessionário" e fora dele, que eram genuínos, que eram, enfim, "eles mesmos". Já falei bastante porque isto é absurdo e impossível; resta tentar saber porque é desejável, e a resposta vai nos jogando logo para a segunda coisa sobre a qual quero falar: ser "eles mesmos" é importante porque "significa" (não significa, mas parece significar, o que, nessa situação, dá no mesmo) ser sincero. E ser sincero, por sua vez, é importante porque, por um lado, é uma característica apreciada, moralmente falando, e o critério para o voto do público passa, em boa parte, por uma avaliação (tosca) de caráter dos participantes; por outro, porque convence o público da genuinidade do próprio programa, a partir de uma alegada não-conivência do participante com qualquer espécie de roteiro-armação.

Isto é na verdade o desdobramento natural do problema do "verdadeiro eu", lançado agora sobre o produto inteiro. Se o programa não é, ele mesmo, genuíno, não pode mostrar nada de genuíno, e genuinidade é o que ele vende; se há armação, não há "reality" - e é sobre isto que quero falar agora. Afinal, BBB é ou não é armado?

A maneira como geralmente esta questão é inicialmente abordada é típica de criança que caiu num truque de mágica bobo e está tentando entender como a moeda poderia ter saído de sua orelha. Fala-se em roteiros e papéis previamente distribuídos, em ordens vindas da produção durante a estadia na casa, e semelhantes. Orgulhosamente, a rede globo disponibiliza o pay-per-view como quem diz "vamos, pode olhar a cartola, a pomba não está escondida aqui dentro" (mas cobrando um extra pela inspeção), e há muita gente que, após, fica convencida de que a mágica é real quando, como de costume, o truque é bem mais evidente do que se imaginou.

No caso, há principalmente dois truques. Um já apontei, mas não custa repetir: o programa é uma armação pela sua própria premissa. É genuíno apenas de forma semelhante a um labirinto de camundongos. Seus participantes são lá postos numa situação extraordinária, na qual são obrigados a assumir um determinado papel e se dispõem, todos, ao mesmo objetivo. E o roteiro do tipo resta-um é explicado inteirinho pelas regras do jogo, a cada semana sendo repetidas as mesmas etapas, com ligeiras variações, até a determinação do vencedor. Todos sabemos desde o começo o tipo de relação que se estabelecerá entre os participantes, e todos sabemos mais ou menos o que vai acontecer, e inclusive sabemos que, no final, um deles ganhará. Só a conjuntura é que muda a cada edição, com uma ou outra surpresas, e com atores diferentes preenchendo os papéis; papéis que, por sua própria natureza, não podem nunca diferir demais um do outro, nem de uma edição para a outra. Parecido com o que ocorre com filmes de ação, comédias românticas, ou - você adivinhou - novelas. Claro, mesmo com o público sabendo que, no final, a mocinha fica com o mocinho, que o herói derrota o vilão, etc., estes gêneros não deixam de ser populares, e o mesmo vale para o reality, que conta com o privilégio de deixar o público escolher quem são os mocinhos. Mas não quero debater o papel da surpresa e da estrutura na narrativa, o que, novamente, seria muita areia para este caminhãozinho.

Voltemos à frase anterior: o público escolhe o vencedor. Escolhe mesmo? Supondo que não haja nenhum tipo de fraude nas eleições do show (e quero deixar bem claro que, embora eu não ache que haja, inclusive pelo que estou prestes a expor, não há nada que o prove com certeza), baseado em que esta escolha é feita? Claro, nas opiniões do público. Mas estas, por sua vez, são formadas pelo que o público vê. E o público vê através das câmeras de televisão, postas lá pela produção, e que mostram, a cada momento, segundo o que é decidido pela produção.

Não há, certamente, nada mais evidente que isto, o que torna o truque ainda mais fabuloso. Acredita-se que o que se vê é genuíno mesmo quando se está assistindo a um programa de tv, gravado num estúdio de tv, num cenário montado pela tv, segundo regras estabelecidas pela tv, com uma programação criada pela tv, e mostrada na tv após uma edição meticulosa! Haveria realidade mais fabricada que esta?

Nem adianta argumentar que a farsa não resiste ao pay-per-view, como se ele não fosse parte do circo - afinal, às gravações de quem você pensa que está assistindo? Quem está escolhendo qual câmera passar, qual microfone ativar...? Claro, o filtro é menor, mas somemos a isto o fato de que ninguém pode acompanhar absolutamente todo o pay-per-view, sob pena de perder a vida (e não só metaforicamente, se levarmos a coisa ao limite), e de que, em nosso país tremendamente desigual, pouquíssimos têm os recursos e a disposição para participar tão ativamente de mais um instrumento de concentração de renda. Resumindo, mais até do que na das câmeras, e muito mais do que na do povo votante, o resultado do BBB está mesmo é na mão da edição, que escolhe meticulosamente o que mostrar, e em qual embalagem mostrar.

E, aliás, que edição! Ela é, disparada, a melhor coisa do programa, a única coisa que o torna tolerável. Assistir às edições do BBB, em especial as de terça, é como ver uma série de trailers ótimos apresentando filmes horríveis, e é admirável o trabalho que conseguem com este roteiro insosso e seu elenco fraco. Também é ótimo porque fica muito evidente que é ela, a edição, que compõe o grosso da direção: ela enquadra cada ator em seu personagem, inclusive designando-lhe por nomes e estereótipos, apresentando e conduzindo cada situação por eles protagonizada.

Se o leitor tem algum problema grave de memória e esqueceu de episódios icônicos como o debate presidencial de 89 entre Collor e Lula, talvez duvide da enorme influência de uma edição tendenciosa na opinião pública. Então peguemos o exemplo mais recente do programa de hoje. Cláudia foi eliminada com maioria esmagadora de votos. Na saída, o apresentador, Bial, a recepcionou pedindo que entendesse o que "nós vimos daqui": seu "namorado", Eliéser, chamando outra participante, Lia, para o paredão, e depois "deixando" que ela, Cláudia, fosse em seu lugar, com a conivência desta. Por esta "covardia", ela foi punida.

Você, que assistiu ao mesmo programa que eu, diga: quantas vezes este aspecto da decisão de Cláudia foi enfatizada pela edição? Dourado, que apontou a "covardia", a repetiu em inúmeras conversas; pelo menos três, se não me falha a memória, foram mostradas. Os acusados responderam algo? Sinceramente, é até difícil lembrar; basicamente não foi mostrado. Acho que em dado momento a edição mostrou Cláudia dizer que, além de ser uma escolha óbvia proteger alguém de quem se gosta (e não é?), ela nem tinha alternativas, já que os outros dois participantes próximos a ela (Dicésar e Michel) já estavam imunes. Rigorosamente falando, o que ela fez de errado? E quem decidiu dar destaque às opiniões que expunham seus atos como errados?

Isto é só um exemplo. O ódio ao eliminado geralmente começa cedo, e dele participa todo o circo armado pela produção, que vai para muito além dela, passando por toda a grade da emissora, a grande mídia impressa, e webmídias; mas todas passam, necessariamente, pela mediação das lentes da casa e da edição de suas imagens, e ela é - como poderia deixar de ser? - tremendamente parcial. Com outros assuntos, podemos sempre ter outras fontes para formar nossas opiniões; com o reality show, a armação é só o começo, e o espectador aceita sempre, implicitamente, ter seu juízo conduzido.

OBS: duro é depois disso ver o jornal acusando este ou aquele candidato de demagogo. Não que não sejam, mas tem mais demagogia nesse mundo do que Big Brother Brasil?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

BBB e o "Verdadeiro Eu"

É, em geral, sabido por quem convive comigo que sempre tive asco considerável de reality shows em geral e do BBB em particular. Desde que venho convivendo com minha digníssima esposa, todo início de ano, porém, isto se tornou motivo de conflito - pois entre seus poucos defeitos, está o hábito de assistir assiduamente ao programa, procurando sempre me levar para o lado negro da programação da TV aberta, o que eu recusei com apenas uma ressalva: que um dia eu deveria assistir a esta porcaria para poder falar mal dela com propriedade.

Este dia chegou no início do ano, quando, lá pelo 4º programa, decidi que era a hora de dizer alguma coisa sobre ele por escrito (falar eu sempre falei) com um mínimo de consistência, sentei-me ao lado de minha mulher e passei a fazê-lo sempre que pude, durante o horário do programa. No começo, pensei que falaria apenas ao final do programa; de lá pra cá, sob sugestões, mudei de ideia, e decidi falar ao longo da duração do show, para não deixar escapar o que penso de cada etapa, como novato no assunto; pena ter decidido assim tarde, mas melhor do que a alternativa.

Comecemos do começo: hoje, ao menos em nosso país, Big Brother Brasil é o reality show por excelência, estabelecido como o de maior sucesso, impacto, influência, duração, e, consequentemente, o modelo a ser batido. Mas quem é capaz de explicar o que é um reality show? Consequentemente, quem é capaz de explicar, afinal, a premissa de Big Brother, o jogo?

A resposta aparentemente mais óbvia, "reality show é um programa de televisão que mostra a realidade", é incrivelmente frágil. Reconstituições, documentários e noticiários "mostram a realidade", ao menos no sentido de não pretenderem produzir ficção, criar uma história. Mas todo bom documentarista sabe que esta é uma linha que nunca pode ser definitivamente traçada, e que toda reconstituição ou relato é, na melhor hipótese, a exposição de um (ou mais) ponto(s) de vista, e a criação de uma história que tem por função tal exposição, a partir do registro da realidade mediado pela imagem e pelo som. Até onde registro e realidade são efetivamente equivalentes, aspectos diferentes da mesma coisa, ou iguais, é assunto de uma complexidade assustadora - e, não por acaso, um dos muitos temas tão bem explorados por Orwell (que, dizem, levanta de sua tumba e devora o coração de um telespectador de Big Brother a cada noite de paredão) em 1984. O assunto é bem grande para nosso caminhãozinho, então, ao menos por hora, deixemos este monte de areia em paz, e voltemos ao programa.

Se não é tão óbvio dizer o que é um reality show, é muito simples dizer que alguma coisa o diferencia da maioria dos demais gêneros televisivos. Mas é, de novo, difícil dizer o que é; geralmente, diz-se que é porque não há, supostamente, um roteiro, portanto não há imitação de eventos ideais, não há mimésis, mas somente um jogo realmente acontecendo, no qual participantes supostamente comuns são lançados, e durante o qual são filmados. O reality, então, seria por mostrar, não uma imitação da vida, mas um trecho da vida propriamente dita, da "verdadeira" vida, "genuína" em dois aspectos: primeiro, por ser, supostamente, o retrato de pessoas "comuns" em situações "comuns", e não personagens em situações incomuns e extraordinárias; segundo, porque, não sendo fruto de planejamento e atuação, o programa seria capaz de mostrar a "face oculta" das pessoas, despidas de suas máscaras.

O primeiro aspecto é, por um lado, tão evidentemente falso que sequer parece merecer discussão: ainda que se possa disputar o quanto os participantes de um reality como o BBB sejam "comuns", é evidente que a situação em que se encontram é tão extraordinária quanto deplorável, asquerosa, humilhante, uma gaiola humana na qual se entra voluntariamente pela oportunidade de fama passageira e dinheiro; até porque um programa que não mostre absolutamente nada de extraordinário não tem razão de ser, nem razão para ser assistido. Entretanto extraordinária não pode querer dizer, em absoluto, sem relação com o cotidiano ou sem nenhum sentido forte para o grande público; de fato, por mais de um ângulo o reality show é, por excelência, mimético. Mas volto a isto outro dia.

Já a face oculta... a esse respeito, assistir ao programa só fez reforçar minha opinião de 10 anos atrás, quando pela primeira vez vi um trecho dele; uma ideia que desencavei ao ouvi um comentário da Tessália, ao sair da casa, que é um resumo de boa parte do que é dito em todas as entrevistas ao sair da casa: "Talvez eu não tenha sido eu lá dentro" (resposta só superada em frequência pela sua oposta, "acho que fui eu mesmo demais"). O programa parece mesmo ser essa busca tosca pelo "verdadeiro eu" dos participantes, e o participante que melhor convence estar mostrando o seu "verdadeiro eu" é sempre sério candidato à vitória. É uma lógica falaciosa que parece querer dizer: "se acompanharmos a rotina de alguém em toda sua intimidade, se o acompanharmos tomando banho, cozinhando, enfim, o tempo todo, e numa situação limite, em que seus parâmetros morais são postos à prova, o verdadeiro eu dele virá à tona". Mas falaciosa precisamente no sentido do senso comum, no estilo da expressão "na hora do vamos ver": "na hora do vamos ver, será que ele será honesto? Será que continuará meu amigo?", tratando esta criatura, desta hora, como mais verdadeira do que as outras.

Não é que esta crença não tenha nenhuma razão de ser, mas ela é tremendamente falsa em pelo menos dois níveis. Primeiro, porque ninguém, ninguém age normalmente sabendo que está sendo observado. Procurar alcançar um estado de aparente normalidade enquanto observado é uma das muitas faces do ofício do ator, e mesmo os melhores entre eles sabem que, ainda que convençam seus espectadores de que agem normalmente, não agem, apenas atuam segundo uma normalidade criada para um personagem. O argumento ocasional contra isto é o de que ninguém seria capaz de sustentar uma atuação por meses seguidos, 24 hs por dia, todos os dias; de que, como os seguimos em sua intimidade, etc., o "verdadeiro eu" vai acabar escapulindo e as pessoas, se revelando. E é fato que há uma espécie de revelação, até porque há um exame, muito aprofundado e específico (outro assunto que fica para uma próxima oportunidade), mas isto é muito diferente de uma revelação "espontânea" do "eu", até porque, e aí nosso segundo nível, esse negócio de "verdadeiro eu" não existe.

Não é uma afirmação tão rasa quanto pode parecer, mas que, igualmente, pode ser entendida e explicada com muita simplicidade: não existe "eu verdadeiro" porque ninguém é uma ilha, e a identidade é formada a partir das relações dos outros conosco e suas impressões sobre nós, a começar por coisas primárias como o nome. Somos sempre atores sociais e estamos sempre exercendo papéis sociais, o que significa exatamente modificar nossas ações segundo as expectativas alheias ou, mais precisamente, o que imaginamos que elas sejam; isto vale até mesmo quando estamos sozinhos. Atuar o tempo todo não é nem surpreendente, nem muito menos impossível, mas a regra para todo ser humano. E Tessália, como todos os demais participantes e boa parcela do público, se engana ao dizer que "não foi ela mesma lá dentro", porque, evidentemente, isto não pode ser feito.

Ao mesmo tempo, porém, sua fala traduz algo muito válido: a ideia de que, submetida àquela experiência, ela se viu tomando atitudes muito diversas das que considerava próprias à sua pessoa, isto é, que falhou em manter um sentimento de identidade ao longo do processo e, mais importante, falhou em passar esta imagem de identidade coesa e desejável para o grande público. Pois, evidentemente, é isto acima de qualquer outra coisa que define o vencedor: a imagem que ele consegue passar de sua personalidade, de seu caráter, para o espectador, de maneira que leve a uma identificação mútua, à torcida e, consequentemente, ao voto. É, resumindo, a habilidade de parecer uma "boa pessoa" mesmo numa situação em que a faca nas costas é obrigatória; um jogo de convencimento e de produção de aparências.

Não é isto que torna BBB uma forma de entretenimento deplorável. A vida em sociedade é sempre produção de aparências. O problema é o tipo de aparência que ela preza e a situação extraordinária que estabelece como "normal" - precisamente, o tipo de situação na qual uma facada nas costas é a regra invariável e a hipocrisia é a norma.
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Falo mais em breve...