segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Porque "Zeitgeist: Moving Forward" é uma merda

Assistir "Zeitgeist: Moving Forward" foi dureza: comecei incentivado pelas indicações dos amigos de facebook e twitter, mas só consegui terminar quando encontrei determinação no desejo de poder criticar com propriedade. Porque o filme é ruim, minha gente, muito ruim; mas isso não é o pior. O pior é ele ser de uma ruindade do tipo contagiosa.

(Antes de continuar, só um adendo: este é o terceiro filme da série. Não vi os outros dois - e agora é que não verei mesmo. Como o nome é grande, escreverei apenas "Zeitgeist", mas tenham em mente que me refiro somente a "Zeitgeist: Moving Forward", porque seria injusto botar os outros no mesmo saco. Apesar de que, sinceramente, duvido que estejam fora dele.)

"Zeitgeist" (expressão alemã que significa, traduzindo grosseiramente, "espírito de época"; ponho isto aqui porque fui conferir e... não entendi o porquê do nome; se alguém puder explicar, ficarei feliz) me lembrou imediatamente - e isso é uma das piores ofensas que posso conceber para um filme - "O Segredo", tanto em seu jeitão quanto no efeito que causa. O jeitão é o mesmo estilo brega e óbvio daqueles documentários do NatGeo ou do History Channel que se propõem a investigar cientificamente eventos bíblicos interpretados de maneira literal, ou qualquer outra idiotice do gênero ("Noé poderia mesmo ter construído sua Arca? Como ele teria colocado todos os animais lá dentro?", "Como Jesus transformou a água em vinho?", e por aí vai). O filme fala em algo ou alguém e imediatamente passa uma imagem daquilo - ao falar de Locke, um retrato dele; ao falar em dinheiro, maços e maços de notas; ao falar de Noé, um ator fantasiado, de barba branca e cajado (tá, Noé não aparece no filme, estou só ilustrando). Não entendo muito de cinema, mas entendo o suficiente pra saber que isto não é a marca de um grande documentário; é ou má direção, que quer se fazer explícita demais, ou uma mal-intencionada técnica de persuasão, que quer fixar imagens e ideias, no melhor estilo publicitário - no primeiro caso, peca por tratar o espectador como um burro; no segundo, como otário.

A outra coisa que "O Segredo" e "Zeitgeist" fazem, e os documentários da NatGeo e History Channel não, porém, é chamar "especialistas" que não são especializados no assunto em pauta. No caso de "O Segredo", posso estar sendo um pouco injusto: primeiro, porque o filme é tão ruim que só consegui ver 20 minutos (aliás, eu e o resto das 6 pessoas que estavam assistindo, 3 das quais caíram no sono); segundo porque, e não sei até onde isso depõe contra ou a favor do filme, o assunto dele, por definição, não admite muito o conhecimento especializado (provavelmente por ser uma grande charlatanice, mas isso não vem ao caso). Já os assuntos de "Zeitgeist" o admitem - e, no entanto, vemos jornalistas depondo sobre economia, geneticistas sobre psicologia e engenheiros sobre a organização social. Não tenho nenhum problema com pessoas falando sobre assuntos de fora de suas áreas (até aí, também não defendo a supremacia do conhecimento científico, como o filme) - pelo contrário, isto é importante e saudável. Mas quando chama-se alguém pelo seu depoimento como especialista... aí é importante que ele seja, de fato, um especialista.

Mas tudo isto só evidencia algo que é tendência no documentário, e que é análogo aos truques de mágica (o que é irônico, já que, pelo que entendi, no primeiro filme Peter Joseph acusa muitos outros de fazerem a mesmíssima coisa): ele tende a misturar opiniões, teorias sem fundamento e acusações generalizadas a fatos verídicos, teorias comprovadas e acusações verdadeiras; resumindo, a misturar fato e especulação. O mágico repete 15 vezes que a moeda está na sua mão direita e, como nas 15 vezes ela estava, na 16ª ninguém descongia que já foi para a esquerda - um truque batido, mas tremendamente eficaz. Muita coisa em "Zeitgeist" é verdade. Não me admira que as pessoas vejam o filme e digam "nossa, ele tem razão!"; porque, em parte, tem. Mas ele se aproveita disto para conduzir o espectador e convencê-lo de que seu projeto é a única solução possível - e nisto não há nenhuma verdade.

Daí posso compreender o impacto do filme, e é por isso que disse que ele é perigoso. Os admiradores de "Zeitgeist" referem-se ao mesmo tipo de coisa ao qual se referiam os de "O Segredo": um "abrir de olhos", uma "experiência capaz de mudar sua vida", etc.; ambos os filmes usam o mesmo tipo de truque, mas enquanto "O Segredo" é mesquinho e dedica-se apenas a afanar o dinheiro de gananciosos com sua linha de produtos, "Zeitgeist" parece querer arregimentar sob sua bandeira cientificista, com o pretexto messiânico da "única solução possível", todos aqueles que, com razão, percebem que há algo de muito errado no mundo e gostariam de mudá-lo - justamente quem poderia, por sinal, fazê-lo. "Zeitgeist" parece-me ter a ambição de cooptar boa parte do potencial de mudança radical da sociedade, localizado em muitos de seus membros mais insatisfeitos, e transferi-lo para seu projeto medonho de sociedade ideal, e é por isso (também) que faço questão de dedicar o possível de meu tempo e esforço à tarefa de retalhar seus fraquíssimos argumentos: gostaria de ver a atenção de meus amigos e das demais pessoas interessadas num mundo melhor voltada para coisas boas. E ainda há muita coisa boa por aí.

"Zeitgeist" comete outro pecado que foi a segunda coisa ruim que reparei nele, e que não sei dizer se é ou não proposital. Se é proposital, há falsidade ideológica; se não, é sinal de muita ignorância. Acontece que o filme sempre indica a origem das correntes de pensamento que critica, situa seu surgimento, etc.: ao falar na origem do liberalismo, cita Locke e Smith; depois Hayek, Friedman, Mises para o neoliberalismo; em alguns pontos, Marx, Lênin, Stalin, Mao para o comunismo; etc. Mas quando oferece as críticas a estas correntes, e quando quer oferecer soluções a elas, e na maior parte do tempo em geral, nunca cita suas fontes - mesmo quando faz uso de conceitos conhecidíssimos. Ele quer associar a si mesmo tudo de bom, e dissociar-se de tudo que há de ruim, como se tivesse inventado, agora há pouco, todos seus conceitos e análises críticas. Em certos casos isto é tolerável num documentário que quer ser acessível e evitar parecer um trabalho acadêmico; mas "Zeitgeist" bem no começo já beira o ridículo, para em seguida tomar impulso e mergulhar nele.

Primeiro grande exemplo. Na primeira parte do filme - e que foi, para mim, a mais interessante (o que certamente tem a ver com o fato de eu conhecer muito menos de genética do que do restante dos temas do documentário) - lá pelos 26 min., os cientistas entrevistados (não vou voltar mais ainda para checar os nomes, sinto muito), para explicar os efeitos duradouros que o ambiente e a educação têm nos bebês e até antes do nascimento, referem-se a "memória explícita" e "memória implícita", e explicam: há o que "poderíamos chamar de" (em "Zeitgeist" esta expressão parece ser o código para a fraude) "memórias implícitas", que mesmo não podendo ser recordadas, têm grande influência na formação da pessoa, seu caráter e personalidade.

Assombroso! Quer dizer, então, que há todo um lado de nossa personalidade que nos é oculto, um lado ao qual não temos acesso! Que descoberta maravilhosa - como ninguém pensou nisto antes?! É quase como se os seres humanos tivessem dois lados: um que eles conseguem perceber, do qual eles têm consciência, e outro que -


E aí eu digo: Peter Joseph, camarada, e seus entrevistados, "memória implícita" e "memória explícita"? Vocês só podem estar de sacanagem! Há no mínimo 112 anos (desde a publicação de "A Interpretação dos Sonhos"), o nomezinho disto é consciente e inconsciente!

Muita gente vai ler isso e dizer que eu estou de frescura, que isto é um mero detalhe, e o que importa não é quem disse o quê, mas o quê está sendo dito. Não é por aí, e por alguns motivos.

Primeiro, porque falsidade ideológica é errado. É particularmente errado para quem estuda o assunto. É verdade que todo o conhecimento sempre toma por base conhecimento anterior; mas isto só torna mais importante reconhecer os méritos do conhecimento anterior. Não é mero detalhe, mas questão, ou de ignorância, ou de caráter - e tendo a crer que é a última alternativa, porque nunca ouvi falar de um pesquisador sério de qualquer coisa relacionada à mente humana no último século que não faça pelo menos uma boa ideia do que Freud disse. Aliás, todo mundo ouviu falar do homem, que foi um dos mais radicais e influentes pensadores da modernidade; não tomar conhecimento da teoria mais básica dele ao tratar precisamente do que ela aborda é, no mínimo, de mau gosto.

Mas o mais grave é, segundo, como já disse, maquiar um conceito velho com uma aparência nova, inclusive com mais maquiagem científica ("memórias implícitas vão direto pra hipófise" ou sei lá qual outro órgão), e fazer parecer que você o inventou, que isto é uma grande novidade da qual nunca ninguém tinha ouvido falar - só que é uma das teoria mais famosas do século passado!

Alguém também pode dizer: não é a mesma coisa, pois os cientistas do filme estão falando de um ponto de vista neurológico, e não psicológico; eles estão apresentando uma teoria nova. Mas o que eles estão apresentando é, no mínimo, uma pesquisa cuja hipótese e resultado coincidem perfeitamente com as teorias freudianas - o que, na prática, dá quase no mesmo.

Ainda assim, realmente seria um detalhe... se fosse só uma vez. Só que em 2:40hs. de filme, Joseph usa, sem dar qualquer crédito, e isto só que eu tenha percebido (e, portanto, atenho-me mais a minha área), ideias de Sócrates (com toda a dificuldade que falar disto sempre carrega), Platão, More, Locke (que ele critica tão duramente!), Comte, e, mais do que qualquer outro, Marx, todos mortos há pelo menos mais de 120 anos, todos clássicos, todos conhecidos. Aí já não é detalhe: é picaretagem.

Devemos nos orientar por conhecimentos objetivos, que sejam maiores do que a mera opinião? É o ataque que Sócrates fazia aos sofistas, 5 séculos antes de cristo! Abolir o dinheiro, que só causa mal? Platão propôs poucas décadas depois que fosse feito entre os dirigentes da República; a Utopia de More estendia a ideia a todos. Cidades planejadas, auto-suficientes e perfeitamente reguladas? Novamente, More traçava isto em detalhes. Os homens reúnem-se para satisfazer suas necessidades de maneira mais eficiente: é Locke um dos primeiros a dizê-lo. Critérios científicos devem ser usados para reger a sociedade? É a proposta de Comte e sua ciência positiva.

Quase nada do que "Zeitgeist" apresenta é novo, e em momento nenhum é transmitida ao espectador a noção de que suas propostas tenham qualquer passado, que tenham sido sugeridas por qualquer outro autor, que possam ser encontradas em outros lugares, apresentadas sob diferentes prismas e discutidas. Ele quer tomar como seu tudo que vê de bom e negar todas as alternativas; ele é o caminho e a verdade.

"Espere, mas você não explicou o que ele pegou do Marx", dirá você.

Ah, é que o Marx é um caso a parte, e vou deixar pra outro dia.

19 comentários:

fabiopl disse...

ou seja, kibaram o Freud.

Rafael Balbi disse...

Bonha,

Além de tudo isso, a proposta de sociedade deles não prevê contradições de valores ou de interesses, o que é impossível em seres humanos dotados de crítica e particularidades.

E um mundo sem crítica ou diferenças seria a coisa mais chata que já aconteceu no universo.

Além disso ele parte do princípio errado de que temos recursos naturais e tecnologia em abundância para todos do mundo, o que não é bem verdade. E além disso, qualquer utopia pareceria bem interessante se começasse a ser montada com a fartura universal.

É que nem jogar Sim City com dinheiro infinito.

O Rapouso disse...

É Heitor, infelizmente você preferiu ver o filme pelo lado do acadêmico dentro de você do que qualquer outro lado. Alguém preocupado com fontes, créditos, novidades, etc, que é um pedaço da discussão que estamos tendo por email. Se o Zeitgeist traz todas essas maravilhosas críticas a situação social que vivemos hoje sem dar crédito a história, qual a diferença? A diferença é que com o filme é possível trazer a tona essas críticas para pessoas que nunca tinham parado para pensar nelas, e sem o filme todos teriam que ler tudo que você leu até hoje para dizer que nada disso é novidade. Lista aí a quantidade de coisas que você leu para esculachar o filme.

Já disse, e infelizmente repito, Zeitgeist não é a única solução. As cidades futuristas não são a única solução. Podemos viver no primitivismo, caçando nossa comida de cada dia, mas simplesmente não podemos viver nesse planeta como se ele fosse nosso de direito. É o que estamos fazendo. E fazemos isso não só com o planeta, mas com todos os outros seres humanos.

Queria poder ajudá-los a compreender mais sobre como é possível viver em harmonia, sem conflitos e sem relações de poder, mas pelo visto, parece que isso é um desejo do ser humano.

Queria saber de você se poderia fazer um post sobre como resolver os problemas dessa sociedade doente mental, se é que você a considera assim, ou se está tudo bem, tranquilo e calmo, e é isso aí.

O Rapouso disse...

@Reis

A proposta de sociedade não prevê contradições de valores porque eles dizem que esses valores são criados pela sociedade atual, logo, numa mudança social geral, emergeriam outros valores provavelmente não conflitantes, mas, para isso, volto a repetir, é necessário uma mudança de mentalidade quase total de cada um de nós. Pra mim é simples que valores não precisam ser conflitantes se todos desejamos viver no mesmo planeta, saudáveis, felizes, etc. Vai haver conflito se alguém quiser me matar, me privar de comer, beber, seja porque essa pessoa é má ou porque ela quer alguma dessas necessidades para ela, e não há outra forma de conseguir. Se há maldade na natureza do ser humano, estamos perdidos para todo sempre, se não há, só vejo a possibilidade de conflito se houver privação de necessidades básicas a vida, de outra forma, qualquer outro conflito é desnecessário. É simples, e simples até demais que parece impossível ou irreal.

Anônimo disse...

Raposo,

só tem uma coisa que não concordo nisso. Seguindo a própria lógica do filme, tem uma característica que eu considero da natureza humana e que não se encaixaria no modelo que eles propõe(que é fechado e totalitário). O ser humano tem a eterna necessidade de mudanças, simples assim. Tudo pode ser melhorado, evoluido e modificado. Isso é inerente a todos os seres humanos, e se demonstra em vários aspectos das vidas dos mesmos. Até mesmo os iluminados(me lembrei do exemplo q vc deu outro dia no bar) não estão livres disso, já que estão sempre em busca de uma evolução mental e espiritual.

Isto posto, num sistema fechado e totalitário como o deles, isso viraria ponto de conflito, pois limitaria essa capacidade do ser humano, e aí sem julgamentos se mudar seria bom ou não, e sem a necessidade de posse.

Não sei se me fiz claro.

Anônimo disse...

Heitor,

flexibilize um pouco sua avaliação sobre isso tudo. Eu gostei da sua comparação com O Segredo, pq acho os xiitas do movimento iguais, mas não acho que isso seja motivo pra se tornar o oposto exato deles e combater com vêemencia o Zeitgeist. Tem coisas e idéias e discussões aproveitáveis ali, e acho que nós que conhecemos mais literatura e material a respeito podemos conduzir a discussão em cima disso tudo de maneira crítica, sem ter que abraçar o arroubos de fanatismo e encantamento que podem tornar a coisa toda bem maliciosa.

O Rapouso disse...

@Giuliano

Não chamo o RBE ou o Projeto Venus de totalitário pelo simples fato de que na teoria (oh, a linda teoria), não haveria nem posses, nem estados, nem leis. Acho que pra ser totalitário precisaria no mínimo de leis se subjugo. Como isso é possível? Apenas com mudança na mentalidade. Eu não preciso, hoje, de uma lei que me diga que é proibido matar alguém. Imagino que qualquer um aqui também não. Se extrapolarmos isso para outros tipos de valores, interesses e conflitos, as leis se tornam obsoletas uma vez que elas são feitas para controlar conflitos desnecessários. Claro que é difícil de entender isso com a mentalidade da sociedade atual.

Tirando o ego (de egoísta, egocêntrico) do meio, já é meio caminho andado para resolver conflitos desnecessários. Como infelizmente vivemos numa sociedade de egos, praticamente somos obrigados a nos garantir primeiro e foda-se todo o resto. Por isso eu digo que pensar com os valores de hoje só fazem afastar a idéia de possibilidade de uma vida em harmonia, pois estamos acostumados com o meu, o quero, o tenho, o possuo, quando na verdade essa merda toda não serve pra nada, a não ser gerar os lindos e maravilhosos conflitos que vemos por aí a fora. Pelo menos alguém deve achar isso bonito pra não fazer nada a respeito para mudar a situação.

Unknown disse...

O fato de sistemas controlarem a gestão dos recursos é um certo tipo de lei. Eles não falam abertamente, mas implicitamente a sociedade proposta é controlada/regulada pelos sistemas tecnológicos. É uma tecnocracia. É nisso que o Balbi e o Heitor apóiam boa parte das críticas deles(mas não só nisso).

Eu concordo com você em relação à mudança radical de mentalidade, e acho que é justamente isso que, se capaz de ser realizado transformaria a proposta do Projeto Vênus numa bobagem desnecessária. Mas sem isso, acho ele bastante perigoso. Tem algumas lacunas grandes na proposta do projeto deles, que eu gostaria de ver respondidas, pois são elas que são bem perigosas.

Mas eu realmente prefiro não discutir esse projeto, pq pra mim o importante é outra coisa, é como fazer pra tentar mudar essa mentalidade consumista, egocêntrica e doente que impera nos dias atuais.

Leo disse...

A idéia do Raposo é bem anarquista (no melhor sentido do termo)
mas pelos exemplos que tivemos até hoje, pelo menos dos que eu sei, o anarquismo só funciona mesmo em pequenos grupos (pequenos mesmo, comunidades de em média umas 20 pessoas)
afinal, "Tirando o ego (de egoísta, egocêntrico) do meio, já é meio caminho andado para resolver conflitos desnecessários."
concordo plenamente, mas vc não acha isso uma das coisas mais difíceis de se fazer? =P


o zeitgeist tem essa força sei lá pq, é muito curioso.
talvez pq ele atire pra todos os lados, talvez pq seja arrogante mesmo, talvez pq o mundo já esteja tão desesperançado e catastrófico que neguin tá se agarrando a qualquer coisa, e é muito mais fácil ver um filme no youtube, do que se informar através de livros...

e em matéria de comportamento humano, sociedade, etc eu acho que tem filmes bem melhores (especialmente como filmes hehe)


acho que chegamos a conclusão que o mais difícil seria mudar a mentalidade
mas e aí? é possível? não é completamente utópico?

outro dia eu li um artigo na mesma linha, argumentando que todos os seres humanos querem, sim, viver num planeta melhor. e nesse artigo esquisito o cara cita até o exemplo de Hitler (!). ele falava algo do tipo, "Hitler, em última instância, queria era um mundo melhor. se todos queremos um mundo melhor, não basta nos juntarmos pra conseguir?"

o problema é que a visão que eu tenho de mundo melhor, não é a mesma que a de Hitler =P

O Rapouso disse...

@Leo

Claro que é difícil, nunca disse o contrário. É simples, mas nem tudo que é simples é fácil. As vezes é tão simples, que de tão simples parece impossível.

E, bom, não é a minha visão que é anarquista, é a visão dos idealizadores do Projeto Venus e da RBE. Por isso eu disse que não pode ser totalitário. Quem entendeu desse jeito, entendeu errado. Ou então vão dizer que eu entendi errado porque na verdade vão ter os cientistas maus e perversos tomando conta do sistema e eu sou o ingẽnuo, etc, e tal. Bom, eu não vi apenas os filmes, por isso posso dizer que não entendi errado. No máximo fui enganado, mas a idéia é exatamente não ter leis, nem estados, nem posses, nem obrigações. Você vive e faz o que quiser com o seu tempo. Se quiser contribuir com algum trabalho, contribua, se quiser coçar até fazer ferida e casca, coce.

Sobre a anarquia funcionar apenas em sociedades pequenas, bom, volto ao meu primeiro comentário aqui: Algo assim tão grandioso só é possível com uma mudança geral da mentalidade da sociedade. Retira-se o ego e meio caminho foi andado. Mas não sou eu retirando o ego de alguém, nem uma máquina fazendo isso, é a própria pessoa pelo seu próprio caminho. Uma vez que o ego saia da frente, as coisas ficam muito mais claras.

""Hitler, em última instância, queria era um mundo melhor. se todos queremos um mundo melhor, não basta nos juntarmos pra conseguir?"

o problema é que a visão que eu tenho de mundo melhor, não é a mesma que a de Hitler =P
"

Bingo! E como lidamos com isso? Como atingimos o melhor mundo para todas as pessoas do mundo do universo da existência sideral astral??? Não existe o melhor mundo, só existe esse mundo, essa vida, essa realidade. Enquanto eu quiser garantir apenas o meu mundo ideal, nunca ficaremos em paz. O que acontece hoje? Todos querem impor o mundo ideal de cada um a todos os outros. Os egoísmos se sobrepõem o tempo inteiro e olha a merda aonde nos encontramos. Mas o que é o meu mundo ideal? Provavelmente são todos os desejos, vontades que adquiri durante a vida. Todas essas coisas são diferentes nas pessoas. Como posso eu querer impor o meu mundo ideal a alguém? Por isso Hitler foi um filho da puta. Fez de tudo para que o mundo ideal dele fosse o mundo de todo mundo, quando na verdade só existe o mundo que não é de ninguém e nós temos que conviver com isso. Viver com isso. Viver. Por isso, viver em qualquer condição é a mesma coisa para quem deixa de ser escravo da mente, pois é ela quem cuida dos desejos, das ansiedades, das vontades.

Ah, e não venham dizer que o Projeto Venus está querendo fazer igual ao Hitler. Que quer impor a mecanização e a centralização da distribuição de recursos, etc, para dominar e subjulgar as pessoas ao totalitarismo da máquina. A idéia não é essa. A idéia é que a Economia Baseada em Recursos se torne uma alternativa muito mais viável e sustentável pelos méritos de demonstração e não de coerção. Uma vez que as idéias demonstradas façam as pessoas entenderem a inexorável simbiose que há entre todos e o planeta, a sociedade vai se adaptando ao novo paradigma. É muito mais óbvio viver em conjunto com a natureza do que contra ela. Por isso o modo como vivemos não é natural, afinal, vivemos contra a natureza, oras.

Se houver imposição, não estará implantando uma RBE e não mudaremos em nada nossa situação atual.

Heitor disse...

Porra, eu passo o horário de trabalho fora e olha o que acontece!

Primeiro de tudo, eu não acabei ainda. Fechei o post onde fechei pq eram 3 e meia da matina e eu tinha hora pra acordar hj. Eu comecei pelos problemas de dar crédito às fontes, ou seja, acadêmicos - e expliquei pq achei isso importante - mas não pretendo parar neles.

Não tem problema fazer um filme q apresente, de forma simplificada, conceitos de acesso mais difícil (mas não tão difícil qto somos acostumados a crer). O problema é não fazer isso bem, ou fazê-lo de forma tão tendenciosa.

Vcs já levantaram a bola da diversidade; acho q é por aí. Vou falar disso qdo der a sequência, espero q mais tarde hj.

O Rapouso disse...

@Giuliano

"O fato de sistemas controlarem a gestão dos recursos é um certo tipo de lei. Eles não falam abertamente, mas implicitamente a sociedade proposta é controlada/regulada pelos sistemas tecnológicos. É uma tecnocracia. É nisso que o Balbi e o Heitor apóiam boa parte das críticas deles(mas não só nisso)."

Aí entra o desconhecimento. O controle dos recursos de forma sustentável é imprescindível. O primeiro de muitos exemplos é o do petróleo. Não adianta se esquivar desse problema. Se isso vai ser feito por um conselho de sábios ou por máquinas, pouco importa, tem que ser feito. Na forma ingênua de acreditar que as máquinas não contém erros maliciosos, confio muito mais nelas para analisarem massarocas gigantescas de dados e dizerem quando estamos indo para a vala do que em cientistas comprados por corporações e nações como hoje em dia. Fora o fato da urgência de uma análise tão grandiosa ser impossível de ser feita por humanos.

Pois bem, aonde isso nos leva? Ao medo das coisas serem feitas por pessoas maliciosas e isso nos levar ao totalitarismo de uma tecnocracia. Aí talvez independa se controlados por um grupo ditador que controla as máquinas ou pelo próprio Hal 9000.

Aí cai no que já falei de que, uma mudança na sociedade sem uma mudança de mentalidade só nos dará um novo senhor para nossa escravidão mental.

Eu também vejo esse medo com ressalvas pelo desconhecimento do movimento que é uma coisa global, feito por pessoas como nós mesmos. Não há big players na jogada e a idéia é não haver. É muito difícil, pra não dizer impossível, de coordenar uma coisa dessa escala que eu vejo de forma secreta e maliciosa.

Leo disse...

"Na forma ingênua de acreditar que as máquinas não contém erros maliciosos, confio muito mais nelas para analisarem massarocas gigantescas de dados e dizerem quando estamos indo para a vala do que em cientistas comprados por corporações e nações como hoje em dia."

essas maquinas serao construidas e programadas por quem mesmo...?

eu nao acredito que a solucao pra qqer problema venha a partir da tecnologia, pq a tecnologia faz parte desse sistema e mantem esse sistema

mas tbm nao vejo como ser primitivista ao extremo

entao... sinceramente? nao sei :/

O Rapouso disse...

@Leo
Por isso falei na ingenuidade de acreditar que as máquinas seriam construídas sem malícia. Se houver malícia, é óbvio que não vai dar certo.

Leo disse...

entao voltamos ao jah cantado pela Bjork, Human Behaviour
=P

Unknown disse...

Raposo,

no fundo você sustenta meu argumento de que o Projeto Vẽnus é desnecessário. Uma vez que a humanidade tenha sido capaz de evoluir a ponto de todos serem capazes de conviver bem entre si e com o ambiente onde estão inseridos, qualquer modelo adotado por qualquer grupo de humanos serviria. Seja ele uma volta ao primitivismo ou uma sociedade tecnológica totalmente auto sustentável ou qualquer uma das infinitas variações entre esses modelos.

Eu não entendo o que eles querem com esse projeto.

Se é pra ser uma alternativa pra quem quer se desligar do atual modelo, onde ele seria feito e como seria garantida a continuidade e o respeito a ele pelos resto da humanidade que não quisesse aderir?

Se é para ser um modelo transitório, como eles lidariam com aqueles que quisessem burlar o sistema ou usá-lo em benefício próprio???

E por fim, se ele só é viável após a total mudança de mentalidade, discuti-lo agora é inútil, é preciso discutir como executar a mudança de mentalidade e depois cada grupo de humanos pode se organizar no modelo que lhe for mais interessante, respeitando as diferenças e particularidades dos outros e se integrando ao ambiente onde vivem sem destruí-lo ou degradá-lo.

Leo disse...

"E por fim, se ele só é viável após a total mudança de mentalidade, discuti-lo agora é inútil, é preciso discutir como executar a mudança de mentalidade e depois cada grupo de humanos pode se organizar no modelo que lhe for mais interessante, respeitando as diferenças e particularidades dos outros e se integrando ao ambiente onde vivem sem destruí-lo ou degradá-lo."

pra mim, é isso aí

Tarcisio disse...

Autor do post, cujo nome prefiro nem saber para não cair na tentação de ofendê-lo, suas palavras são a prova cabal de que nossa sociedade urge por uma completa reestruturação.

Esqueça tudo o que leu! Esqueça tudo o que aprendeu! Utilize os seus sentidos e constate por conta própria que a grande maioria das pessoas está vivendo como animais. Outra maioria, nas qual eu e provavelmente você nos incluímos, está vivendo escravizada por uma sociedade cujo único objetivo é perpetuar-se às custas de vidas humanas. A sociedade, que idealmente deveria ser o sustentáculo da evolução humana, tornou-se seu algoz.

Não importa o que pensavam Freud, Locke, More, Comte, Marx e todos os outros. Todos eles faziam parte da elite de suas respectivas sociedades. Também não adianta ler Esopo ou Primo Levi, por exemplo, que vivenciaram o lado dos párias de seu tempo. Em vez de ater-se a eles, faça como eles: analise e tente entender a sociedade em que você vive. Depois disso, proponha soluções para os problemas que encontrar, como fez Peter Joseph, mesmo que você e eu não concordemos com tais propostas.

Sinceramente, eu me importo muito mais com o que você pensa do que com o que pensaram os grandes filósofos, pois você é, como eles foram, reflexo de sua sociedade, e esta sociedade me assusta profundamente.

Heitor disse...

Sinceramente, qdo comecei a ler este último comment, senti cheiro de um flame que, ainda bem, não veio.

Bom, até aí, esta sociedade é produto do passado que estes pensadores representam, e profundamente influenciada pelo que eles pensaram. Se seguimos sua linha de raciocínio, logo tacharemos todo estudo da história como inútil.

Agora, esquecer tudo que se lê só pode valer como metáfora... ninguém pensa sozinho. Pensamos ao mesmo tempo com e, espera-se, contra a sociedade da qual fazemos parte; se não devemos aceitá-la inteira como é, também não podemos pensar sem a linguagem e a cultura que herdamos dela. Que são as únicas ferramentas que temos, aliás, para procurar criar algo novo, ou para julgar o que nos é apresentado como novo (e, no caso, não é).

Especificamente, a influência de boa parte dos pensadores citados é tão grande que, a rigor, nem eu nem você conseguiríamos pensar sem eles, querendo ou não, porque as palavras que usamos para nos expressar já estão profundamente marcadas pelos sentidos que eles as deram.