Fiquei com tanta vontade de poder mostrar isto aos meus alunos e outros colegas não-adeptos do inglês (e também acho que andava com uma vontadezinha de traduzir alguma coisa menos formal), que acabei traduzindo eu mesmo, de modos que qualquer problema do gênero é minha culpa, minha máxima culpa. Tentei entrar em contato com a autora antes, mas só há a possibilidade de fazê-lo por intermédio da própria revista Piauí e de seus editores, num daqueles formulários impessoais de site... francamente, se alguém ficar muito ofendido pela tradução e publicação, pede que eu tiro. Ou então tire as calças pela cabeça.
É um post do blog de uma moça americana chamada Flora Thomsom-Deveaux, estudande de Princeton que, sofrendo de uma paixão agude pela música e literatura brasileira, veio sanduichar seu curso de letras por aqui, na PUC-RJ. O blog todo vale à pena: ela escreve bem (mas em inglês, ainda que por vezes se beneficiando da mistura dos dois idiomas) e é uma forma muito interessante de ver nosso país e cidade. Segue minha versão.
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DE VOLTA À ESCOLA
Tenho uma confissão a fazer. A PUC é mais difícil do que Princeton.
Talvez não em termos de quantidade de estudo, ou de dificuldade das leituras, ou mesmo pelo fato de todas as minhas aulas serem em português. A PUC é difícil porque parece o ensino médio. Sei que só faz dois anos, mas eu tinha me esquecido completamente de como é estar em uma sala de aula e sentir que ninguém queria estar lá. "Vocês têm o direito de perder até 25% das aulas," explicava tediosamente um professor, enquanto estudantes torpedeavam pelo celular no fundo da sala. "Se vocês copiarem da Wikipedia em suas avaliações, nós descobriremos", dizia outro. Em dado momento do curso de literatura brasileira, o professor estava resolutamente disputando com 3 outras conversas sussurradas; em um seminário de história com 4 inscritos, o bondoso professor chegou a ter de calar a boca de 50% dos estudantes.
É difícil de se lidar com a PUC porque as pessoas não parecem ligar para as aulas, ou saber porque estão lá. Certo, não vale para todos. Nós quatro conversávamos antes do seminário de história, e um dos alunos está trabalhando 10 horas por noite para escrever sua tese porque tem uma filha de um ano. Alguns poucos parecem genuinamente interessados nos cursos.
Por vezes, porém, nem eu posso entender porque. Já testemunhei professores entrando em sala e passando o tempo todo lendo em voz alta. Não estou falando de ler anotações preparadas para aquilo, mas de repetir o texto selecionado e ocasionalmente elaborar a partir dele. Minhas aulas de "Pobreza e Desigualdade Social" tiveram uma discussão animada noutro dia, mas isto foi somente porque todo mundo começou a reclamar do alto custo de vida no Rio. (Se tem algo que os brasileiros amam é reclamar do preço da comida. Sério. Eu juro, posso chegar para qualquer carioca e resmungar sobre quanto custa o queijo na zona sul, e podemos continuar com isso por pelo menos meia hora. Amizade instantânea.)
"Ah, vai ser tranquilo pra você," disse um dos estudantes da PUC quando mostrei as disciplinas que pretendia cursar. "Estas são todas da área de humanas. Então basicamente a única coisa que você tem que fazer é aparecer em algumas aulas e ler os textos antes da prova." Ri nervosamente, torcendo para que ele estivesse brincando, mas não parece ser o caso.
Posso ter sofrido uma pressão incrível em Princeton, lendo e escrevendo pelo menos 10 vezes mais, mas eu gostava do meu trabalho. E todos ao meu redor também. Eu saía nas nuvens de um seminário com uma discussão realmente provocadora; aqui, tenho de aparecer na aula, sentar por 2 horas, e responder à chamada (sim, eles fazem chamada). Às vezes parece mais com uma punição disciplinar do que com uma faculdade. Então, sim, a PUC é difícil.
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Um comentário:
Heitor, ainda estás aí?! Preciso falar com vc, sobre a história do Zeitgeist e um projeto que to montando! Sou prof de economia na UFRGS. Meu mail - glaucia@campregher.com
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